Se você soubesse a resposta certa para perguntas como
"qual é o melhor investimento do momento" ou "qual ação vai
subir hoje", provavelmente não estaria mais trabalhando, não é?
Muitos investidores insistem em buscar respostas simples
para perguntas bastante complexas. Mas, como já diria muito sabiamente o
economista Milton Friedman, "Não existe almoço grátis". Uma conversa
de meia hora com um consultor financeiro ou com o seu gerente não trará a
fórmula do enriquecimento. Ao lidar com investimentos, é preciso avaliar com
muita calma e estudar sistematicamente diversas aplicações para encontrar as
melhores oportunidades.
A seguir estão elencadas algumas das perguntas que os
profissionais da área de finanças mais costumam ouvir de investidores. Leia e
entenda por que as respostas para elas não são tão simples quanto você imagina.
1) Quais ações vão
subir hoje?
Segundo Alessandro Mavignier, gerente do Home Broker da HSBC
Corretora, todos os dias clientes ligam na corretora para fazer esta mesma
pergunta. “É uma questão que não tem resposta e é associada à tentativa do
investidor de descobrir uma oportunidade em Bolsa sem risco. Por mais que se
faça todo um estudo, nunca há garantia de nada em renda variável”, afirma.
Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos,
acrescenta que a pergunta está sempre no imaginário dos investidores e que se
houvesse uma resposta, ela valeria milhões de reais. Ele pondera que é possível
antecipar tendências, mas não há como afirmar se uma ação irá subir com
absoluta certeza. “Isso acontece porque no curto prazo, no pregão do dia, por
exemplo, as ações sobem na maioria das vezes em função de expectativas, e não
com base em fatos”, diz.
2) Qual é o melhor
investimento neste momento?
Mais uma pergunta cujo objetivo óbvio é encontrar uma
resposta rápida, fácil e que livre o investidor da "árdua tarefa" de
pensar.
Ficar sem resposta nesse caso talvez seja a melhor opção.
“Ao fazer essa pergunta para um gerente de banco, geralmente ele vai ter uma
resposta, mas errada. Ele dirá que o melhor investimento é a poupança, a
previdência, ou um fundo, de acordo com o produto que ele precisa vender para
bater sua meta”, afirma Guilherme Campos, professor da BBS Business School.
Segundo ele, a resposta é errada porque a própria pergunta
não é feita da maneira correta: "O investidor deveria perguntar o que é
melhor para ele. Ao fazer esse tipo de pergunta sem enfatizar esse lado,
normalmente o gerente responde o que é melhor para o banco".
Milhares de profissionais da área de investimentos trabalham
todos os dias exatamente para tentar prever quais investimentos têm mais
potencial de gerar retornos no momento. Isso não aconteceria se a resposta
fosse óbvia.
Além disso, escolher aplicações baseando-se em seus
resultados recentes pode ser muito arriscado. “O que parece ótimo hoje pode
esconder um problema que só aparecerá no futuro. Os bons investimentos têm bom
histórico e podem ser comprovados de forma objetiva e não pela opinião de
momento”, diz Bittencourt.
3) Qual é o melhor
investimento para ‘X’ reais.
Para definir o investimento mais indicado, não basta apenas
saber qual é a quantia disponível para aplicação. Outros fatores importantes
devem ser levados em conta, como o prazo do investimento, o perfil de risco e o
objetivo do investidor.
Por mais chato que seja preencher questionários ou gastar um
tempo falando com o seu consultor sobre esse tipo de questão, isso é crucial
para que a orientação de investimento seja contundente.
Com 50 mil reais é possível investir em aplicações tão
diversas quanto a poupança, o Tesouro Direto, a Bolsa ou fundos de
investimentos de vários perfis. Mas, se o prazo for de três ou seis meses, a
poupança pode ser a melhor opção. Assim como, se o objetivo for investir no
longo prazo, sendo possível correr riscos, a Bolsa pode ser a melhor
alternativa. E isso só será definido depois que muitos critérios forem ponderados.
4) Por que essa ação
teve um desempenho ruim?
Você pode acreditar que existe uma resposta para essa
pergunta, mas milhares de fatores podem influenciar o desempenho de uma ação.
“Sempre existem notícias que explicam a oscilação, mas por trás desse
movimento, há muito mais que uma notícia. Inúmeros fatores determinam o
sobe-e-desce, nunca vai existir um par perfeito entre ação subir e notícia e
vice-versa”, afirma o gerente do Home Broker do HSBC.
Ele ressalta que, mesmo quando é divulgado um resultado
muito positivo ou até recorde de uma empresa, no dia em que é feito o anúncio,
as ações podem cair. “Qualquer ativo negociado em Bolsa é precificado com base
em expectativas. Isso é muito relacionado à conhecida frase: 'A ação sobe no
boato e cai no fato'. O mercado antecipa esse tipo de informação. Se existe uma
data no futuro para divulgação de resultados, a oscilação antecede este
fato", diz Mavignier.
Uma notícia não deve basear uma tomada de decisão
isoladamente. Outros fatores menos efêmeros devem ser considerados para que
seja possível definir se a ação pode sustentar um ganho em um período mais
longo, ou se ela pode se recuperar de um prejuízo.
O diretor da Apogeo destaca que é importante verificar, por
exemplo, se o desempenho ruim da ação ocorreu por uma questão pontual, ou se
existe um fator estrutural negativo na empresa que está prejudicando a
valorização da ação. "Existem também fatores conjunturais da economia que
podem afetar momentaneamente a cotação de uma ação. Por isso é importante
avaliar paralelamente o setor ao qual a ação pertence, comparando seu fraco
desempenho com a média do setor”, recomenda.
5) Quanto devo juntar
para a minha aposentadoria?
Mais uma questão que o investidor terá que se contentar em
não receber uma resposta ou encontrar uma resposta vaga. Alguns profissionais
até se arriscam e respondem que é preciso acumular o suficiente para ter o
equivalente a 60%, 70%, 80% de sua renda atual, mas o cálculo não é tão
simples.
O cliente precisa primeiro investigar que tipo de gastos ele
terá no período da aposentadoria e o estilo de vida que pretende manter, algo
extremamente subjetivo. E apesar de muitos acharem que os gastos diminuem, isso
pode não ocorrer, já que algumas despesas médicas que não existem atualmente
podem passar a pesar no orçamento.
Em segundo lugar, é preciso estimar qual será a inflação
acumulada até o momento da aposentadoria, uma estimativa totalmente incerta e
que reforça a tese de que a questão não tem resposta. Especialistas até
recomendam que os investidores pensem em uma inflação anual de 5% a 10%, mas
nada garante que os preços subam dentro dessa faixa.
Bittencourt comenta que é muito difícil definir a quantia
exata que deve ser poupada hoje para chegar a uma renda ideal na aposentadoria,
sobretudo se ainda faltarem muitos anos para isso. “Não há uma fórmula mágica,
mas o melhor que podemos fazer é recalcular a cada cinco anos se o total
poupado é compatível com o período previsto para estar aposentado”, orienta.
6) Quanto vou ganhar
com esse investimento?
Se é que o investidor obterá uma resposta para esta
pergunta, as chances de que ela não seja satisfatória são grandes.
Se o investimento for em renda variável, como as aplicações
em ações, é um pouco mais óbvio que o retorno pode variar muito e que qualquer
tipo de resposta não passa de uma especulação. Mas, mesmo em aplicações de
renda fixa - como o Tesouro Direto e a poupança-, muitas vezes não se sabe
exatamente o valor que será recebido, apenas a forma de remuneração do
investimento.
A poupança, por exemplo, rende 70% da taxa Selic (quando a
Selic for menor ou igual a 8,5% ao ano), mais a Taxa Referencial, que fica
muito próxima a zero, mas é variável. Ou seja, a forma de remuneração é
previamente definida, mas não se sabe, em termos nominais, quanto será recebido
a cada real investido porque a Selic e a TR podem variar.
As Letras Financeiras do Tesouro (LFT), consideradas um dos
títulos mais seguros do Tesouro Direto, também não possuem um retorno
previsível. Isso ocorre pois, apesar de o investimento ser de renda fixa, sua
remuneração é atrelada à taxa Selic. Como o título é pós-fixado, seu rendimento
pode variar.
Apenas as aplicações em renda fixa prefixadas possuem um
retorno que pode ser previsto logo no ato da aplicação. É o que ocorre com as
Letras do Tesouro Nacional (LTN), que são os títulos do Tesouro Direto que
pagam sempre uma taxa de juros determinada no momento da aplicação sobre o
valor investido.
7) Onde posso
investir sem correr riscos?
O sonho de todo o investidor é aplicar em um investimento
com altíssimo retorno e sem muito estresse. É lamentável informar, mas esse
investimento não existe. “Não se pode eliminar completamente todo o componente
de risco em um investimento. Este fator é inerente ao ato de investir”, resume
Bittencourt.
É bem possível que um profissional responda que a poupança é
um investimento sem riscos. De fato, a caderneta pode ser considerada um dos
investimentos mais seguros do mercado, mas isso não a isenta de riscos - os
brasileiros que tiveram sua poupança confiscada nos anos 1990 devem concordar.
Se mesmo a poupança tem riscos, que dirá os investimentos em
renda variável, que são declaradamente arriscados?
Na impossibilidade de encontrar investimentos sem riscos, o
diretor da Apogeo recomenda que o investidor não escolha um produto somente
pelo fato de ele ter mais ou menos risco, e sim pela relação de retorno versus
risco, que demonstra quanto risco vale a pena correr para obter um determinado
ganho. “Os maiores ganhos possuem também maior risco implícito e o investidor
terá de escolher: para o mesmo nível de retorno o investimento de maior ganho
ou para um mesmo retorno esperado aquele de menor risco”, diz.
Fonte: Exame
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