quarta-feira, 2 de outubro de 2013



É do latim a expressão ciclo circadiano (circa + diem = cerca de um dia), que significa - em conceito informal - o mesmo que relógio biológico. Na verdade, o ciclo circadiano de uma pessoa é uma espécie de ritmo regulador do corpo, o que inclui várias influências sobre o indivíduo. Mas seu aspecto mais conhecido é o que se refere ao estado de vigília e sono, no ciclo das convencionais 24 horas diárias que movem a rotina das populações do mundo.

Provém do ritmo biológico - ditado pela própria natureza individual - a classificação que se costuma fazer entre pessoas matutinas ou vespertinas (ou noturnas). É possível considerar que talvez residam aí os segredos do estado de sono ou vigília de uma pessoa, a partir de seus instintos naturais para apreciar melhor o dia ou a noite.

Você é matutino ou vespertino? 

Ele é decididamente matutino. Sem despertador, acorda - todos os dias - às cinco da matina. Desde o raiar do sol - do espaço entre o seu despertar e as onze da manhã - ele consegue realizar um ciclo extenso de atividades rotineiras, como:

"Acordo ao amanhecer, por volta das 5 horas. Tomo uma ducha fria, faço o café do meu filho (ovos mexidos, salada de frutas, panqueca de tapioca, suco de frutas), acordo o meu filho às 6 horas, preparo o meu café, levo o garoto para a escola. Já com a prancha no carro, vou vendo o mar... Na volta, pego umas ondas, vou à academia, depois ao mercado e, às vezes, ao banco. Depois, volto pra casa, preparo meu almoço e vou trabalhar".

Este é o depoimento do ator Kadu Moliterno sobre a sua rotina matinal. Sem dúvida, ele pertence ao grupo dos matutinos, aqueles indivíduos que acordam cedo e, pela própria ordem biológica, se sentem animados com a alvorada. "Sempre gostei do nascer do sol, desde pequeno. Meu pai acordava pra dar aulas de tênis antes de clarear o dia, e eu ia pra escola; depois das aulas, eu fazia natação, ginástica olímpica, futebol (...) Desde sempre, vivencio diariamente a minha rotina de esportes: além do surf, gosto de jogar tênis, nadar no mar, jogar futvôlei, futebol de campo e de areia".

Já o compositor e instrumentista Eduardo Camenietzki - que também atua como músico da UFRJ há 23 anos - exerce, todos os dias, a rotina típica do vespertino: "Em geral, meu horário de sono se dá entre 4 da madrugada e 11 da manhã. É como me sinto bem. Por isso, no meu trabalho sempre procuro adaptar as agendas a esse horário cotidiano. Quando tenho que fazer algum curso pela manhã, peço que este nunca comece antes das 10h30min, porque entre 6h30min e 8h muito dificilmente consigo estar acordado", relata Camenietzki.

E o músico notívago está certo; especialistas afirmam que deve ser respeitado o ritmo de uma pessoa, o que gera satisfação natural e ampla produtividade no cumprimento de suas funções rotineiras.

Eduardo Camenietzki pertence, claramente, ao clube dos verpertinos ou noturnos - aqueles indivíduos cujo biociclo é acionado na medida da aproximação do pôr do sol (por isso, a denominação de vespertinos).

Os vespertinos - ou noturnos - se mantêm ultraligados noite adentro. São as chamadas "corujas genéticas", pessoas capazes de trocar o dia pela noite, como é comum a escritores, por exemplo, muitos dos quais trabalham a noite inteira, em vigília produtiva permanente.

Como identificar os diferentes grupos

A avaliação desses "portadores de diferentes relógios biológicos" é feita por um questionário que data de 1976, elaborado pelos pesquisadores alemães J. A. Home e O. Otsberg. Os resultados podem demonstrar variações também, já que em cada esfera podem se apresentar exemplos de indivíduos extremos ou moderados, entre os quais aqueles que resistem a longas horas sem dormir.

Também é importante destacar que existem, além dos vespertinos e matutinos, os intermediários - daquela classe de pessoas que se adaptam aos dois tipos de horário: o da noite e o do dia.

Causas da falta de sono

Convidamos a neurologista Renata Areza - Membro da Academia Brasileira de Neurologia - ABN - para esclarecer particularidades do sono e seus impactos na saúde. Indagada sobre as causas da insônia, ela explicou que o motivo mais comum é a ansiedade: "A pessoa ansiosa se sente angustiada, nervosa, preocupada, antecipa problemas (e possíveis soluções) e acaba não conseguindo relaxar para dormir. Quando, por fim, consegue adormecer, a qualidade do sono já não é a mesma. A quantidade de sono profundo é reduzida, e a pessoa acorda cansada, como se tivesse trabalhado a noite toda, ou seja, o sono não é reparador".

A médica também destacou outros motivos recorrentes para os insones: depressão, distúrbios do humor, doenças neurológicas, doenças clínicas, medicações, álcool, drogas ilícitas e alterações na higiene do sono.

Também é importante lembrar aqui a questão da hipersonia (tendência a maior intensidade de sono durante o dia, até pelo estado "elétrico" da pessoa de hábitos noturnos em seu horário habitual de vivências). Outro aspecto digno de nota, de acordo com recomendação da especialista, é verificar bem a causa da possível insônia, a fim de que não sejam ministrados medicamentos sem maior necessidade, uma vez que estes trazem malefícios em longo prazo.

Medidas para a higiene do sono

Você já ouviu algo sobre "higiene do sono"? Muitas pessoas resolvem seus problemas de sono somente com a modificação dos hábitos relacionados ao horário de adormecer e à sua manutenção. Renata Areza indica um conjunto de medidas simples para melhoria da qualidade e da quantidade do sono, sem medicações. Destaque para estas:

Não ingerir bebidas com cafeína a partir das 15/16h ou outros tipos de bebidas estimulantes;

Não fazer refeições pesadas em horário próximo ao do sono, ou seja, evitar alimentos que contenham muitas proteínas ou gorduras (o indicado é, mesmo, uma leve ceia, com itens como: um copo de leite, leite com cereais, iogurte, uma fruta, suco, uma fatia de pão com queijo etc.);

Não fazer exercícios físicos de 3 a 4 horas antes de ir dormir;

Escolher roupas confortáveis e adequadas para o clima;

Não deixar luzes acesas;

Não ingerir bebidas alcoólicas logo antes de adormecer;

Escolher atividades relaxantes para fazer antes de dormir (como ler um livro ou escutar uma música leve e agradável em volume baixo).

Consequências da insônia

De acordo com a especialista entrevistada - que também é Membro do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN -, a falta de sono traz consequências agudas e crônicas. Após uma noite mal dormida podem aparecer mal-estar, irritabilidade, sonolência, tontura e, sem dúvida, prejuízos de atenção, o que pode causar riscos à vida da pessoa, principalmente se está dirigindo ou operando máquinas. E, depois de muitas noites mal dormidas, vão surgindo as consequências crônicas: depressão, dores no corpo, queda de imunidade e problemas decorrentes, com infecções e inflamações frequentes, entre outras.

Afinal, quantas horas diárias de sono são necessárias?

Apesar da recomendação média de 7/8 horas diárias de sono, já se sabe que o relógio biológico varia de indivíduo para indivíduo, o que costuma dividir as pessoas entre as apreciadoras da noite, as do dia e as que conseguem se adaptar a ambos os horários. O empresário, Relações Públicas e produtor cultural Alberto Bardawil, por exemplo, apresenta essa versatilidade:

"Meu trabalho me leva, várias vezes, a ficar muitas noites acordado. Por outro lado, acordo cedo independente da hora em que vou dormir. Apesar da intensa movimentação de trabalho noturno, gosto do sol e de saber que estou começando cedo o meu dia".

Mas nem todos alcançam esse equilíbrio; muita gente preferiria começar o seu "turno diário" mais tarde. Por causa disso, ultimamente vem sendo difundido o conceito de Sociedade-B (Instituto B-Samfundet), que obedeceria a uma nova configuração cotidiana de serviços e funcionalidade - "o mundo acontecendo em horário alternativo", favorecendo dessa vez os notívagos: escolas, departamentos de trabalho e centros de compras iniciando mais tarde suas atividades. A respeito, Renata Areza também sugere: "Seria muito mais democrático se houvesse alternativas concretas para as pessoas que têm esse padrão de sono noturno. Poderiam existir serviços de delivery que funcionassem à noite, academias, restaurantes, cinemas com sessões durante a madrugada, comércio e serviços em geral".

Em benefício dos "atípicos do sono" 

Opções semelhantes às propostas da Sociedade-B (inicialmente implementadas na Dinamarca) já estão em prática em vários países europeus. Em alguns também se instituiu a siesta em certos setores de trabalho, por exemplo. Sim, a famosa "sesta" de antigamente - ou seja, aquele descanso rápido após o almoço - foi reinstalada. O sistema funciona assim: as pessoas vão para casa dormir; o comércio fecha (e também se interrompem, provisoriamente, outras atividades), e tudo é retomado mais tarde, após as tais pausas revigoradoras. É claro que, de acordo com essa dinâmica, o expediente termina bem mais tarde. Essa espécie de ensaio para uma tal - e opcional - Sociedade-B plena tem apresentado resultados excelentes na elevação de quesitos de desempenho e produtividade. E você, gostaria de ver essa remodelação também no Brasil?

Fonte: Yahoo!

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